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quarta-feira, 30 de março de 2011

Um homem falido de David Lescot

Por convite da menina Green, fui à estreia desta peça de teatro, que gostei muito!! Adoro teatro, apesar de ir muito poucas vezes!! A interpretação de Rúbem Gomes está excelente!!

David Lescot é o autor da peça "Um Homem Falido", que se encontra em cena no Instituto Franco Português, em Lisboa. O espectáculo conta com a interpretação dos actores Rúben Gomes, Sylvie Rocha e Américo Silva, numa encenação de António Simão, com o apoio de Jorge Silva Melo. Esta produção dos Artistas Unidos foi traduzida por Marie-Amélie Robilliard e Joana Frazão e é dirigida a maiores de 12 anos.


O Homem que Encolhe
A trama tem três personagens, dois homens e uma mulher. Um casal sem filhos, onde o homem está desempregado, que se vai separar depois de lutarem em vão contra as dificuldades materiais e endêmicas do endividamento. Um Mandatário Liquidatário é nomeado para ajudar o homem a desfazer-se de todos os seus bens. Entre eles é estabelecido um jogo de conflitos de identificações e transferências. Ao levar o homem a livrar-se de tudo que possui, o Mandatário está envolvido numa espécie de experiência radical, ao ir observando um homem privado das suas propriedades, considerando talvez fazê-lo voltar à sua dimensão essencial. O Mandatário revê-se como o arquitecto da segunda vida do homem. Rendido à sua nudez, progressivamente privado de tudo, o homem deve inventar a nova existência que lhe é oferecida. Recuperar o que perdeu, ou aprender a viver “sem”. A acumular ou a desfazer-se ainda mais do que possui. Restando-lhe um último aliado na sua solidão: um mau livro, um romance de ficção-científica, The Shrinking Man; utilizando-o como manual de ética. A história de um homem que inexplicavelmente diminui três milímetros por dia, que deve enfrentar uma inevitável dissocialização e adaptar-se progressivamente ao que é ameaçador e hostil. Identificando o seu destino com o do homem que encolhe, o homem falido vê-se forçado a organizar a sua vida tendo em conta o seu novo estado. Como o seu modelo que mede dois centímetros de altura, abrir um frigorífico exige um esforço sobre-humano e um tempo desmesurado. “Consumir cada vez mais” - a orientação dominante da nossa sociedade, reverte-se. E tudo o que se segue: ele não precisa mais do que um espaço vital reduzido ao mínimo, de dormir apenas alguns minutos por dia, porque à sua volta a escala de tempo mudou, etc. Apertado entre as entrevistas com o Liquidatário e as conversas com o livro, a existência do Homem Falido assume a forma de uma série de recomeços sempre abortados. Deduzindo ex absurdo que sua esposa o abandonou porque ele não tinha quase nada, ele imagina que ela voltará se ele não tiver realmente nada. E assim visita pontualmente a mulher, dando-lhe a ver, sem resultado, o espectáculo do seu decrescente estado. Adquirindo pela experiência uma aguda consciência da relação filosófica entre o direito e a propriedade, o Homem Falido procura diminuir o mais possível, de forma a reverter contra si próprio o acordo com o Mandatário Liquidatário e também a melhor maneira de reconstruir a sua vida. E pode muito bem ser que a encontre.
David Lescot 

3 comentários:

  1. mas que bem escrito! :)
    peço é desculpa mais uma vez, pela situação chata e por toda a confusão em encontrar o sítio.

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  2. Parece-me muito interessante a peça. Também gosto muito de ir ao teatro, pena que ultimamente não o faça frequentemente. :)

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  3. Green, o texto é do próprio autor da peça e de facto traduz bem o teatro!! Não tens que pedir desculpa, tenho que te agradecer a oportunidade. kiss

    Só Avulso, também vou poucas vezes. kiss

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